Política e Cidadania (postado originalmente em 2006)

Recentemente, recebi um e-mail que continha uma apresentação de slides cuja autoria foi atribuída a João Ubaldo Ribeiro, e cujo tema era sobre a nossa limitada condição enquanto povo para mudarmos a realidade de nosso país através da política. Nos últimos tempos, desde que comecei a trabalhar como agente público, tenho refletido muito sobre política e cidadania.
Minha geração conheceu a democracia através da televisão, quando das transmissões das Diretas Já!, e do "Impeachment" de Collor. Obviamente, aqueles que tiveram a oportunidade de estudar um pouco da história do Brasil, sabem que esses processos tiveram uma importância ímpar na consolidação da democracia no país. Mas, questiono, ainda, alguns detalhes desses processos, que têm muita semelhança com o conteúdo da apresentação que citei no início dese texto.
Quando adolescente, assistindo pela TV ao impeachment de Collor, pensava eu: "por que interromperam minha programação favorita para transmitir essas besteiras?". Pensamento nada anormal para uma criança. O que hoje me assusta é que a grande maioria dos adultos, na época, diziam a mesma coisa. E, aqueles poucos que fingiam estar interessados, na verdade não compreendiam o que realmente se passava, bem como as causas que levaram a tudo aquilo. Para que se comprovasse este fato, bastava que eu questionasse aos "adultos" porque a imprensa falava daquilo o tempo todo. Alguns ainda arriscariam: "porque vão dar um chute na bunda do presidente!". Caso insistisse no "por que?", provavelmente escutaria: "porque ele é um ladrão!". O terror tomaria conta se eu perguntasse: "como ele roubou?".
Há alguns meses, quando do início do escândalo do mensalão, o Presidente Lula fez um pronunciamento afirmando que tinha receio que a "onda" de denuncismo que se alastrou pelo país prejudicasse a carreira honesta de vários parlamentares, uma vez que as provas eram frágeis, e, se num momento posterior, nada ficasse comprovado, o que faria para "limpar" os nomes daqueles equivocadamente acusados? Apesar de estar tentando acompanhar a avalanche de notícias que a imprensa divulgava sobre o escândalo, e saber que os indícios eram muito comprometedores para vários parlamentares (muitos do PT), tive que concordar com a essência do que o Presidente falou.
Existe uma grande ansiedade do povo brasileiro em encontrar culpados para o que não dá certo em nosso país. Somos mais ansiosos para encontrar culpados do que as soluções. Sendo assim, adoramos quando alguém é posto na berlinda para ser alvo de nossos comentários infrutíferos. Obviamente, não estou fazendo defesa do Collor, ou de qualquer outro político. Se alguém interpretar dessa forma, estará entendendo superficialmente minhas considerações. Estou apenas considerando que, assim como os adultos da minha época de adolescência, não temos conhecimento para pensar criticamente os fatos políticos, sociais, econômicos que diariamente são noticiados em nossos telejornais.
Sendo João Ubaldo ou não, a apresentação mostra o quão despreparados somos para elegermos nossos representantes. Seja porque bucamos mais informações do que conhecimento, seja porque alimentamos uma cultura de acusação, não de participação, seja porque, muitas vezes, cometemos em esfera menor as desonestidades que nossos políticos cometem na esfera maior. Eles são um mero reflexo nosso, e estão lá porque nós quisemos assim.
Chegou a hora de nos mobilizarmos, não apenas com caras pintadas, mas providos de vontade de mudar nossas atitudes enquanto cidadãos, dispostos a participar nas mais variadas instâncias que exercitam o controle social sobre o poder político, na forma de movimentos que busquem construir conhecimentos sólidos, para não acomodarmo-nos na superficialidade da informação. Sobretudo, chegou a hora de exercitarmos nossa capacidade de participar com respeito, focando superar nossa limitação de tempo e disponibilidade, para conhecermos aqueles representantes que poderão construir, junto com toda a sociedade brasileira, um país mais justo e melhor.

Comentários

Família Catão disse…
Amigo Anderson.
Não conhecia mais essa sua faceta, a de escritor...
Que bom que descobri esse seu blog, a partir do MSN.
Sobre o seu artigo "Política e Cidadania", apesar de ser de 2006, continua atualíssimo.
Fiquei um pouco inquieto quando comparei as nossas posições etárias no caso Collor. A grande diferença é que eu já não era mais adolescente. Já era adulto, e confirmando o que você escreveu, também estava, como os outros, buscando apenas os culpados, e não soluções.
Como aliás, de resto, continuamos agindo hoje em dia, infelizmente.
Muito bom esse seu alerta de conscientização do nosso papel enquanto atores polítos na sociedade.
Parabéns amigo.
Agora vou navegar pelos seus outros textos.
Um abraço.

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